A cetamina, também chamada de ketamina ou cetamina, é um fármaco de efeito anestésico utilizado há muitos anos para induzir ou manter a anestesia. É utilizado também no tratamento de dor crônica. Nas últimas duas décadas, descobriu-se que ela também tem efeitos antidepressivos no tratamento de transtornos mentais graves e incapacitantes, como depressão resistente unipolar e bipolar.
A cetamina é um medicamento seguro e regulamentado, tendo sido aprovada em 2019 pelo Federal Drug Administration (FDA) para tratamento de depressões resistentes. É regulamentado pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) – agência reguladora no Brasil – e está presente na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde, sendo considerada um dos medicamentos mais importantes do sistema de saúde.
Estudo mais recentes apontam que o sistema glutamatérgico está relacionado à fisiopatologia da depressão, o que explica, ao menos em parte, que a cetamina tem seu mecanismo de ação modulando esse sistema e, consequentemente, promovendo a resposta clínica nos quadros depressivos de maneira mais rápida e mais potente quando comparada aos antidepressivos de uso oral, convencionalmente usados. A cetamina age na regulação do glutamato, um aminoácido presente no cérebro, contribuindo, dessa forma, para o processo de sinalização celular nos circuitos cerebrais, os quais se encontram deficitários na depressão.
Importante salientar que a atuação da cetamina é mais rápida, o que já é uma grande vantagem, pois é sabido que nenhum antidepressivo começa a atuar em menos de 15 dias. Sua ação pode trazer melhora mais rápida e eficaz dos sintomas, podendo, eventualmente, evitar uma internação, já que sua administração no tratamento agudo da depressão pode evitar e prevenir o suicídio. Trata-se, portanto, da maior descoberta no campo da psiquiatria das últimas décadas, com eficácia comprovada por dezenas de estudos científicos. Porém, a aplicação deve ser realizada em ambiente seguro sob supervisão de um profissional de saúde.
Atualmente, as possibilidades terapêuticas têm se ampliado e, a cetamina, está definitivamente no arsenal terapêutico do psiquiatra no manejo de pacientes que falharam em outras tentativas de tratamento para depressão grave com ou sem ideação suicida. De forma geral, a depressão é considerada refratária ou resistente ao tratamento quando não houve resposta clínica a pelo menos dois ou mais antidepressivos, em tempo e dosagem terapêutica. Nestes casos, a cetamina é uma excelente alternativa, uma vez que apresenta uma taxa de eficácia de cerca de 75%, considerada bastante alta. Em alguns casos, a melhora do quadro depressivo e/ou da ideação suicida ocorre já na primeira sessão.
O tratamento é bastante simples e seguro. Casa sessão dura em média 90 minutos e são feitas de 8 a 12 sessões na fase aguda dos sintomas, a depender da resposta clínica. Terminada a fase aguda do tratamento, pode-se programar sessões de manutenção, com o objetivo de manter os sintomas sob controle. Durante todas as sessões, o paciente é acompanhado por profissionais de saúde e seus sinais vitais são monitorados.
Os eventos adversos mais frequentes durante as sessões são náuseas, tontura e sintomas dissociativos (quando há a percepção alterada do ambiente ao redor, sem perder a noção da realidade). Em alguns casos, também pode ocorrer a aceleração dos batimentos cardíacos e aumento da pressão arterial. Estes efeitos adversos costumam ser leves, de curta duração e autolimitados. Não há efeitos colaterais fora do período de aplicação, pois a meia vida da cetamina é curta.